A longa lista de investigações que atingem Jair Bolsonaro ganhou um capítulo novo na quinta-feira, 8/2, na forma de uma operação da Polícia Federal autorizada pelo ministro do STF Alexandre de Moraes, que intimou o ex-presidente em casa de praia, em Angra dos Reis, a entregar o passaporte em 24 horas. A ordem. Que tem a palavra ‘corno tem vezes’, está relacionada à apuração de responsabilidades sobre a tentativa de golpe de Estado após o resultado das eleições de 2022. O entorno do capitão também foi duramente atingido, com quatro prisões e vinte mandados de busca e apreensão.
Na véspera, Bolsonaro havia discursado em cima de um trio elétrico diante de uma multidão de apoiadores em São Sebastião, no Litoral Norte, mesmo após a PF desmarcar o depoimento agendado para aquele dia, como peça de um outro inquérito que investiga uma suposta importunação dele a uma baleia durante um passeio de moto aquática.
O fato de estar no alvo de um caso assim serviu de gancho para reclamar do que classificou de um cerco a ele. “Querem uma condenação criminal para me tirar do combate, em definitivo, em 2026”, afirmou. “Se há democracia no país, minha inocência será reconhecida”.
Paradoxalmente, esse assédio judicial, que inclui de investigações de importunação de uma baleia à participação em golpe de Estado, passando também por venda de joias do patrimônio público (praticada por todos os ex-presidentes) e apuração de responsabilidade sobre um esquema ilegal de espionagem da Abin, não produziu até agora nenhum estrago visível na popularidade do ex-presidente.
Em certa medida, até o ajudou a voltar a insuflar parte da massa de eleitores com a narrativa de perseguição política. A capacidade de resistência dele foi quantificada em um novo levantamento do Instituto Paraná Pesquisas. Entre os dias 24 e 28 de janeiro, a empresa ouviu 2.026 eleitores em todos os estados e questionou em quem eles votariam para presidente se a eleição fosse hoje, colocando o capitão como uma das opções.
No cenário principal, Lula alcança 36,9% e Bolsonaro, 33,8%, um empate dentro da margem de erro, que é de 2,2 pontos percentuais. Na simulação de uma hipotética reedição do segundo turno de 2022, há um novo empate dentro da margem de erro: Lula tem 43,9% e Bolsonaro, 41,9%. “Os números mostram que o quadro político continua extremamente polarizado”, diz o diretor do Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo. “Isso é bom para os dois. Por isso nem Bolsonaro nem Lula desceram do palanque”.
Encomendada pelo PL, o partido de Bolsonaro, a pesquisa foi feita principalmente para medir a popularidade do ex-presidente — evidentemente, o cenário de uma nova disputa presidencial entre Lula e Bolsonaro não é factível hoje, devido à inelegibilidade do ex-presidente. Ainda que seja pouco provável uma reviravolta nessA decisão, os aliados do ex-presidente confiam no retorno do capitão a tempo de disputar novamente o Palácio do Planalto. “Nosso candidato vai ser ele”, diz Valdemar da Costa Neto, presidente do PL. “Se não puder ser candidato, ele que vai escolher quem será”.
Bolsonaro é um dos mais confiantes numa virada. Questionado no dia do comício em São Sebastião pela reportagem de VEJA sobre a possibilidade de ser candidato em 2026, respondeu “Pretendo, sim. E olha que a gente tem muita coisa que pode acontecer aí”.